sexta-feira, agosto 17, 2007

Marco tuas mãos com o fogo dos meus olhos. Tu, não entende, não percebe, só sente - porque de sentir ninguém nasce isento - o corpo arder.

Nunca mais pegarás o papel principal na vida alheia.

Teve uma época em que minha aura virou cinza (aquela dos mortos, a mesma da fênix).

Pintei minha aura de lilás, dei festa, subí na mesa de centro da sala, chamei todas as fadas da velha floresta. Elas vieram fantasiadas de gente (mas não conseguiram esconder as asas e o brilho dos olhos). Dançamos no escuro a noite inteira.

A lua, como eu, também estava nova.

domingo, agosto 12, 2007

O doce está na dispensa.

Olhei para os lados: não havia ninguém no caminho do banheiro. Atravessei o corredor bem rápido - talvez bem mais rápido na minha cabeça do que eu realmente tenha atravessado - e tranquei a porta.
O banheiro estava muito frio.
Fui pegando nas paredes geladas (minhas mãos brancas, ficando úmidas) até chegar lá: o espelho pálido. Fiquei parado uns dez minutos - ou uma eternidade? - na frente do espelho que nada me dizia além de curvas. Curvas fechadas, em alta velocidade, luz alta, um volante perigissísimo. Havia vindo mais gente do que eu tinha imaginado.
Toda cor foi ficando azul. Um azul polar, que casava com o rosa-shock da minha blusa - que também ficava azul. Foi questão de segundos para as cores voltarem ao normal, segundos - ou não? Aconteceu, não sei bem como. Toda explicação é incompleta, toda descrição é falha, todas as palavras são abertas.
Havia vindo mais gente que o esperado. Quando eu ouví, já estava olhando muito profundamente dentro de um caleidoscópio, que era o meu próprio olho no espelho, estava olhando há dias. Foi quando eu ouví, bateram na porta. Foi questão de segundos, eu entendí onde estava, e quem eu era.
Abrí a porta do banheiro e sorrí, recebendo a visita. Mas me empurraram, e eu só escutei que alguém vomitava no meu sanitário. E eu continuava sorrindo na porta do banheiro, como um porteiro, não sei bem por quanto tempo.
Depois eu saí da porta. Tinha gente demais na minha casa, e eu passava, andava, esbarrava em alguém, copo no chão, um barulho agudo e lento na minha cabeça de vidro quabrando. Naquela noite, a velocidade brincava com meus sentidos. Passei a noite andando, como quem procura algo... muito tempo depois lembrei: estava à procura de um caleidoscópio.

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