sábado, outubro 01, 2005

Saí de casa sem bater a porta. Sem chave, sem foco no olhar, quase sem os pés no chão. Fui andando tão sozinha, que não sentia a minha presença. Eu, que tinha fugido de mim, agora fugia de casa.

Instintivamente fui andando em direção à água. Sentei na beira do lago sem reflexo e deitei a mão sobre a superficie calma do lago. Minha mão diluiu, misturou-se com a água, desapareceu. Desfiz o movimento, e a mão voltou.

O lago me chamava como se eu, peixe doce debatendo, precisasse do líquido para não morrer. Eu ou a que fugiu de mim?

Entrei no lago, devagar, e cada parte de meu corpo respirava melhor com o toque morno da água. Fui diluindo, duluindo, e nadei sem pressa, sem roupa, sem corpo.