sábado, maio 07, 2005

O canto

O passarinho cresceu vendo o trânsito da casa. Todos decidiam o seu destino, até o bebê, que engatinhava pela sala quando a mãe se distraía, conversando comas vizinhas. O passarinho cantava, um canto de desespero, de socorro, de angústia, e todos riam, achando lindo. Se debatia na gaiola quando ia receber alpiste, e pensavam que era fome.
Um dia, a mão que o alimentava vacilou, deixou uma brecha e ele escapuliu. Voou, e viu que o céu não era só o quadradinho da janela da lavanderia, era muito maior, uma imensidão. Viu as árvores, viu os fios elétricos, e voou mais e mais e mais. Até que os meninos do outro quarteirão acertaram uma pedra de baladeira bem na sua cabeça. Cantou alto, forte, rápido. O único canto de passarinho da sua vida.

quarta-feira, maio 04, 2005

Simples, teimoso e talvez mongol, como a vida.

Acordou com uma leve coceirinha no pé, e com o incômodo de quem foi dormir com uma calcinha apertada. Tomou banho, a água escorrendo pela marca da calcinha. Foi ver o pai no hospital, e, sem saber que ele morreria no domingo, ouviu-o nesta semana como nunca havia feito a vida inteira. O pai morreu dizendo que não tinha feito tudo o que desejava na vida.
Ela, desde esse dia, nunca mais usou calcinha.

domingo, maio 01, 2005

Hoje

Chegou assim,
devagar e bem quentinho,
me iluminando,
fazendo brilhar tudo o que eu fazia...
quando ví,
já era meio-dia!

=D